Histórias do Cinema com Rodrigo Fonseca

HISTÓRIAS DO CINEMA EM QUESTÃO: AS INDÚSTRIAS DE SONHOS, no Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro, é uma série de oito palestras que traçam um breve panorama dos cinemas brasileiro e americano, especialmente em algumas de suas manifestações mais representativas.

O evento quinzenal, toda terça-feira, de 23 de fevereiro e 01 de junho de 2010, que tem entrada gratuita, com a retirada de senhas uma hora antes, estimula a memória do cinema brasileiro e internacional pelos olhos de convidados que fizeram fama no meio cinematográfico.


O Curador do evento, João Máximo, apresenta o convidado Rodrigo Fonseca. "O principal critico do jornal O Globo. Tem uma cabeça fantástica. Eu sou colega dele. Eu não vou a internet, pergunto logo ao Rodrigo. Ele poderia falar com qualquer assunto sobre cinema: americano ou brasileiro"


Rodrigo Fonseca entra em cena, com uma iluminação noir em um fundo negro, um pouco nervoso e inicia a verborragia dominante do assunto que irá abordar.

“Um dia um camarada me perguntou, que já tinha tido uma enquete American Institute para fazer classificações de gênero, estéticas... Qual o filme mais triste que você já viu na vida? Segundo o Instituto os filmes foram “Dançando no Escuro” e “Rosa púrpura do Cairo”. Não concordei, não por pretensão, mas o que me deixava triste, uma tristeza mais pensada do que sentida, chama “E o bravo ficou só”, um filme que vi em 1988 na rede bandeirantes, numa copia vagabunda, toda tremida, dublada pela Waldir Santana o ator Charlton Heston, que foi considerado por muitos o maior homem que já viveu, que foi Ben Hur, Moises, A marca da Maldade de Orson Welles. O filme de 1968, um filme um pouco esquecido, muito difícil de achar no mercado, conta a história de um pistoleiro aposentado que precisa pegar em armas novamente. Mas pegar armas novamente no faroeste de John Wayne, de Henry Fonda, de Robert Michel, dos primeiros grandes caubóis, era uma coisa, mas pegar em armas de novo com o movimento cultural contra isso, com Godard filmando “Pierrot lé fou”, com os movimentos de transformação políticos, paz e amor, que culminou no mítico 1968, que foi o ano do filme “E o bravo ficou só”. O heroísmo não podia vencer, estava sendo colocado em xeque. A noção do código de ética dos caubóis, que foi lançado pr Gary Cooper “Um homem tem que fazer o que um homem tem q fazer” em “Matar ou Morrer”, já não era mais aceito, porque matar índios, se impor, falar grosso para uma mulher não era tão bem visto assim pelo feminismo. A tristeza pela trajetória de sonhos que estava chegando ao fim. Uma maneira de olhar o mundo entendendo o processo de construção de uma civilização que naquele momento estava cercada de toda discussão de formas estéticas e políticas e todos os ‘ismos’ possíveis pela sua expansão colonialista. Ser um caubói americano da década de 70 era um problema. Era um convite a ficar só. A solidão do personagem de Charlton me incomodava e me incomoda até hoje porque ela passa a sensação de que uma certa alegria, de que um certo olhar ingênuo que os faroestes tinham e que mais tarde podemos ver que deixaram herança tanto na Europa e até mesmo no Brasil tava sendo vista com maus olhos e precisava ser refeito. O filme que irei exibir agora é um filme que o próprio rejeitou por causa do ator principal, porque hoje os críticos acham um ator picareta, um ator de segundo, mas ele tinha a habilidade de transitar etapas de ação à comedia, então ser picareta na arte dele é ser um mestre. “Meu nome é ninguém” com Terence Hill e Henry Fonda. O filme foi rejeitado por muito pelo Sergio Leone.

Eu queria que abrisse o entendimento de duas características muito marcantes nos filmes de faroeste, no bang bang em geral, que hoje em dia são poucos utilizados na historia do cinema. Existe uma cena que a camera acompanha todo o galopar de um cavalo, que hoje esta característica é responsável pela baixa permanência deste gênero nos cinemas que é a capacidade de contemplação que ele exige do diretor. O faroeste é quase um raciocínio sobre uma história, com H maiúsculo, de uma construção de uma nação. Elementos característicos: chapéu, revolver na cintura, um cavalo tornam-se tipificastes como o elemento primordial do oeste de maquiar uma trajetória histórica. É uma narrativa épica sobre a construção de uma civilização. Ele é um gênero hollywoodiano por excelência. Talvez ele é o musical sejam gêneros mais arraigados dentro desta primeira parte de Hollywood. Há quem defenda que “Os Sertões” de Euclides da Cunha seja de documental e especifico bang bang. Desde 1979 pra lá, a queda mais brusca, foram feitos 59 westers. Só nos anos 20 em 6 meses foram produzidos 110 curtas, medias e de longa duração filmes que flertavam com o gênero.

O western começa de uma maneira que os críticos que chamam de celebrativo, enaltecendo feitos de seus desbravadores. Década de 30 temos uma oeste, com raras exceções, uma proximidade com o cinema de aventura, que é a necessidade de o herói seguir em frente e arrebentar todas as fronteiras que impedem que a missão seja cumprida. O western começa a colocar duvidas, a pensar em relação ao papel do caubói, do herói de guerra, por que esse cara tem o direito de carregar armas e se impor por essas armas? Este gênero engatilha em 1903 com o filme “O grande assalto ao trem”, que era um relato, um registro de assaltos a trens que existiam na época, utilizava uma maneira de enquadrar a imagem, uma experiência que inaugurou um gênero, popularizava os atores. Reconstrução. Ele reconstitui determinadas lendas ou fatos que realmente aconteceram. O mito ou o registro histórico vai nortear de mão dada na historia deste gênero. Transitar entre os dois mundos é o principal objetivo. Entre preservar o respeito ao que é historia e se apresentar como uma narrativa de prevenção propriamente dita. Dar uma roupagem aos elementos de uma historia ou aos elementos desta narrativa de épico de conquista, ou seja, o enfrentamento do inimigo, a coragem, valores que o western tenta enaltecer. E que vai sendo alterado ao longo do tempo quanto mais autoral é a proposta de seus realizadores. John Ford imprime uma identidade estética de autor. A maneira como a historia é contada, como filmam a travessia é o principal apelo do tempo. “O nascimento de uma nação” é o marco zero de uma linguagem cinematográfica pensada e lapidada. William Walters, Bronco Bill, pode ser considerado o primeiro ator de um bang bang e ajuda a criar a ideia que o western pudesse fazer personagens lendários como John Ford e Jonh Wayne. Se algum ator conseguiu encarnar um personagem épico na vida, ser alguém que simbolize o heroísmo com superação foi John Wayne, homenzarrão com expressão bovina, que foi um mito na época. A figura de um homem inabalado mesmo fazendo papel de mau. Muito do que a gente diz como verdade do faroeste é questionado nos outros livros. O western deixou uma lacuna pra gente. A gente recorre a ele com um olhar nostálgico. Quero ressaltar um elemento que é a ação física.

Os mitos dos anos 30 e 40, como Jesse James, vivido por Brad Pitt atualmente em “O assassinato de Jesse James pelo covarde Robert Ford” foi muito incompreendido, merece ter um segundo olhar. No western a idade era diferente. Quem tinha 25 anos aparentava uma cara de 33. Hoje, hollywwood quer atores mais novos. Antes, o herói passava por uma carga de experiência de vida pela idade, que vá além do certo ou errado e que saiba lutar pelo seu quinhão.

Década de 40 e 50. O western vai deixando o enfrentamento dos índios para segundo plano. Valorizando os limites dos índios. Ninguém questionava John Ford por usar do índio uma figura incomoda que devia ser retirada de escanteio. Isso não vai incomodar. Mas uma nova leva de diretores criara um vilão que nenhum vilão foi: televisão.

A televisão vem causar no cinema uma queda dos filmes de western, por causa desse enfrentamento com os índios. De 35 filmes da Fox, caiu para 14. O formato estava na televisão. Transformação cultural. O envolvimento dos EUA na Coréia e mais tarde no Vietnã modificou a tentativa de enfrentar um povo diferente de você, os chamados amarelos. Você usar um pele vermelha, vou colocar todos os termos pejorativos porque estou falando de um western de formação. O ruído de território começa a acontecer e abalar as estrutura. A estrutura anticomunista, a histeria que cria a lista negra de diretores e atores que se simpatizavam com o socialismo, questionava o modelo capitalista, vigente na América. Isso marca a América.

Temos uma transformação dos modelos de narrar uma historia. Os personagens começam a mudar. A televisão absorve diretores que já trabalhavam em cinema, inauguram uma geração que vai marcar o cinema. Promove o enfraquecimento do faroeste, por outro lado, todo faroeste que entra no cinema vai exigir uma nova linguagem. Vai trazer uma marca de uma geração. Vai transformar a contemplação, a lentidão, a possibilidade de narrar. Se fosse um filme de Michael Bay (Armageddon), o índio chegaria em dois minutos. Nos filmes de John Ford, você não sabe que horas o índio vai invadir a casa, que tipo de mal. Um suspense em cima daquilo que você não vê. A trilha sonora é fundamental. Tubarão de Spielberg é um tributo a essa maneira de narrar o thriller, a tensão, o suspense. Você não precisa apresentar, você precisa sugerir. A tensão tem que ser mais ameaçadora do que a própria exposição em si. John Ford dá uma entrevista ao diretor de “Ultima sessão de cinema”. “O objetivo de um filme de faroeste é deixar a plateia adrenalizada com a sensação de algo que você já conhece. O que dá medo no pistoleiro é a habilidade, é a certeza de que aquele cara pode ser mais rápido do que seu protagonista, do que o seu mocinho, logicamente é mais rápido que você, porque o mocinho é algo que é espelhado. O sentimento que é maior”, a lógica de Ford cativa multidões mas não é dele. A lógica esta em Homero, em Édipo Rei, em todo teatro grego. Isso faz deles homens maiores, homens lendários.

Robert Altman, John Frankenheimer (“Grand Prix”), Sidney Lumet (“Um dia de cão”), diretor de uma rajada de balas e de um pequeno grande homem com Dustin Hoffman. Leva de cineastas que utilizam aquele momento e que vão adicionar a essa maneira de narrar uma agilidade que ele não tinha antes. Começa-se a agilizar o faroeste. A câmera parada por tempos vai sendo diluída. Os diretores do passado são a matéria prima dessa transformação.

Exibe-se “Meu ódio será nossa herança”. A violência no faroeste. Violência diferente. Você não vê grito, sangue na mão depois de ter sido baleado. Até agora não escutamos um palavrão aqui. Tinha um filtro. A violência não era explicitada. O mundo que acordou para a necessidade de fazer um reformismo social era um grupo que não podia mais acreditar em um herói que tinha o chapeuzinho no lugar, cabelo bonitinho. Cary Grant entrar em uma briga e não se sujar não cabia mais nos anos 60. A violência tinha que ser um espelho do que acontece na realidade. Adota o “seja marginal, seja herói”. Não tem mais final feliz. Não é fazer justiça, mas fazer a justiça deles. Influenciou Quentin Tarantino, um dos mestres que a gente tem, a trabalhar com a câmera lenta, que é uma sequela da contemplação do western clássico. Onde a lógica da humanidade pede licença é o que deve ser contemplado. Mostrar quanto naquele mundo havia sujeira, aquele mundo não era bonitinho. As estrelas dos peitos dos xerifes caíam e eles bebiam e não eram perfeitos. A gente não precisa mais acreditar na ilusão, mas super expô-la. Quanto eu a boto na carga máxima, eu vejo quanto ela é absurda. E mais absurdo é o discurso que faz que essa violência seja necessária. É um discurso que torna esses homens fora da lei. Tem um passado por trás destes personagens que justificam essas ações. Razão questionada.

Nos anos 70, uma escassez deste gênero. Aparição de um novo tipo de faroeste, que é marcado pela comicidade, pela ironia. Ensaiado pelo filme “Divida de Sangue”, com Nat King Cole e Jane Fonda. Filme feminista que coloca uma heroína na tela. Da um novo faroeste: metafísico, acido por um cinema de Alejandro Jodorowsky, metido a bruxo, que hoje escreve filmes de magia que fez “El topo”. Que ser pistoleira não é legal, que dá problema pra si mesmo e pros demais. “Banze no Oeste”, Mel Brooks debochando o faroeste como nunca se viu.

Uma transformação gradual por Artur Penn, vai fazer um faroeste “Duelo de Gigantes”, com Jack Nicholson, recém saído do Oscar por “estranho no ninho” como um bandido que resolve gozar a vida. Não vou mais matar ninguém, ele dizia. A lei não quer deixar o Jack ficar no rancho dele e chama um caçador de recompensas que tem a imagem não de machão, não de furioso, mas Marlon Brando com uma pena na cabeça, uma calça cor de rosa, uma camisa cheia de babados, andando desmunhecando num cavalo. A frase do estúdio “você transformou o caçador de recompensas em uma bicha”. Em “Piratas do Caribe”, quando Jonny Deep entra desmunhecando loucamente em cena, como Jack Sparrow, remete-se a cena de Marlon, amigo e homenagem. O faroeste vai sobreviver deste escárnio, desse deboche.

Anos 80 esse deboche será diluído pelo roteirista Lawrence Kasdan, de “Indiana Jones”, que fez um filme chamado “Silverado”. O faroeste da uma tentativa de respirar. Como se fazia antigamente, herói no lugar de herói, bandido no lugar de bandido. Ele está aberto a novos tempos. É o politicamente correto: um mocinho negro, um índio bacana na historia, se a mocinho é anã, o mocinho não pode debochar em nenhum momento. Será um western bem comportado, a exceção de um diretor Clint Eastwood, que vai perpassar de uma maneira muito pessoal na carreira do cinema. Ator revelado pela televisão em um seriado de faroeste. Ponte de uma geração. Agir de uma maneira pessoal. É um dos mais importantes cineastas da realidade. A habilidade do cineasta cresce mais, ate porque ele testa variados gêneros. Ele lota os cinemas dos anos 60 e 70 como ator de bang bang. As pessoas iam ver o Clint, o Dirty Harry matar gente em outro tempo. Relação, uma dependência do ator da moda do que o gênero em si. Clint surge com o filme que o leva a competição do Festival de Cannes “Cavaleiro Solitário”, que é quase um tributo a solidão dos caubóis, é quase se ele refizesse o filme mais triste na minha opinião que eu já disse para vocês. Só que com a cara do Clint. O herói dele vai sofrer, será mais humanizado, que vai refletir a violência, vai marcar a sua carreira. Até chegar ao filme que muitos consideram o sepulcro do faroeste “Os imperdoáveis” que questionara a ótica do merecimento, do enfrentamento, da honra dos caubóis.

Exibe-se “O bom, o mau e o feio”, de Sergio Leone. Deixar para o cinema o que o publico pedia: um cinema mais engajado, um cinema adulto, ou um cinema escapista mais radical. Matéria prima para fazer o cinema funcionando e mantê-lo cheio. Um filme de gênero, um filme de cartilha. O filme de gênero é a proposição única de vendas do beneficio básico, que exemplifica que se um filme é de comédia você vai rir, se for drama, você vai chorar. É um cinema de formato. O cinema italiano tinha uma força comercial muito forte. Produziram elenco, uma estrutura de produção pessoal com códigos de filmar próprios. Inventaram um faroeste para si. Eles resolvem usar do faroeste uma vitrine para vender e para encher cinema. Um rosto de identificação com o público é necessário. Muitas vezes fabricam esses rostos. Unir o real com a fantasia.

Faroeste Spaghetti. Os italianos fizeram uma reconstrução para os fãs. Um faroeste que super ativava todas as características que o cinema americano encobria. “O dia da ira”, de Tonino Valerii. O caubói aparecia totalmente cheio de poeira. Você sabe que o cara é mau pela quantidade de pelos que o cara tem no corpo. As verrugas e marcas são colocadas em close. Define o homem mau. Bud Spencer e Terrence Hill. "Trinity ainda é meu nome”. Este faroeste é responsável pelos melhores títulos da historia do cinema. “Não descansarei até matar o último do bando”, “Deus vos cria, eu vos mato”, “Aleluia, Trinity Voltou”, “Mato hoje, morro amanha”, “Vou mato e volto”, “Os anjos também comem feijão”. Tinha também “Trinity e Carambola”, um troço horroroso que passava no SBT.

Eu trabalhava com revistas em quadrinhos. Eu nem tenho cara de quem gosta de revistas em quadrinhos. Eu ando na rua, as pessoas falam ‘ já vai o nerd’. Risos na plateia.

Outros países resolveram fazer esse gênero. Surgiu no Leste Europeu o “Ostern” ou "western vermelho", um cara sérvio como ator fazendo papel de índio, mas era louro de olhos verdes. E um índio legal porque os filmes eram patrocinados pelo partido comunista, com dinheiro soviético. Fazer filmes que fossem contra uma ideologia americana. O xerife é mau. O índio é o bacana.

“Gregório 38”, o filme teve todo o processo de criação pela mesma pessoa, Rubens Silva Prado. Tem um filme, posso ser visto na cinemateca do MAM, de um diretor Ozualdo Candeias “A herança”, adaptação de Hamlet pra o sertão, interpretado por David Cardoso e por Agnaldo Rayol com os ponchos que Clint usa.

Nordestern. Faroeste Macaxeira. O bang bang dos cangaceiros. “O cangaceiro”, de Lima Barreto, “O cangaceiro trapalhão”, de Daniel Filho. Alguns que as crianças daqui não tenham assistido “As piranhas do cangaço”, “As cangaceiras eróticas”.Tem que ser revisto, ate mesmo pela estranheza.

O faroeste se reinventou e ficou cerceado pelo politicamente correto. Uma das últimas tentativas foi “Dança com Lobos”, com Kevin Costner, esforço para uma ideia pro indígena, dialogando com elementos e coloca o colonizado no lugar de honra. E depois jogou a carreira no lixo. Anos 90. “Rápida e Mortal”, “Jovem demais para morrer”.

Clint em 'Os Imperdoáveis' diz “Isso não tem nada a ver com merecimento”, essa era não cabe mais no mundo que a gente vive, não cabe por causa da visão de certo ou errado, o que é merecido ou não, uma era que a imposição da sua vontade é mais forte do que qualquer coisa. Aquilo acabou porque os caubóis ficaram sozinhos.E por isso que hoje quando olhamos o faroeste, olha-se com tristeza, pela sensação de que foi preciso a censura da historia para mostrar para a gente que aquela narrativa que nos encantava era quase um discurso em prol de uma causa política. O bravo ficou só e ficou triste porque ele percebeu que era parte de uma lógica muito complicada e que não era tão simples quanto montar em um cavalo, puxar uma arma, atirar mais rápido. Avatar nada mais é do que uma releitura do “Dança com lobos”. O faroeste vai reviver nos filmes de aventura contemporânea. Como a lógica de saber quem precisa defender se uma bomba explode em um supermercado em Israel. Que nunca vai caber, que xerife vai manter uma estrela no peito e que estrela representará diante disso? O faroeste parou de fazer sentido porque esse mundo diz para o faroeste: aqui não tem nada a ver com merecimento.

Aqui tem uma leva de pessoas na dublagem aqui, eu queria deixar a minha admiração profunda. Existe uma tendência do registro histórico estético que diz que toda vez que você precisa olhar o passado e admitir o que foi para uma referencia do presente, precisa-se evocar figuras que norteiam mestres. Quero homenagear um mestre, Marcos Seixas, da arte da dublagem que é muito mal tratada pela imprensa e pela cultura brasileira em geral. Eles fazem o exercício de transpor para o português uma fala, dialogo, eles podem ao linkar a voz adicionar uma curva gramática muito particular, muito autoral, que permita diferenciar um ator do outro. Essa diferença gera sentido. A inflexão, respiro da voz, a pausa, a maneira de dosar o texto, fazer com que nuances de interpretação sejam percebidas. Eu fui percebendo a mudança do Clint pelo trabalho de dublagem do Marcos. O expectador não precisa pensar em cinema, mas ter prazer com cinema. O oficio da dublagem empregou ou emprega um time de atores que possuem uma capacidade de se reinventar a cada novo personagem. Elcio Romar é a voz do Woody Allen e do Michael Douglas. Ele acha inflexões que o próprio ator não encontra. Eles complementam a interpretação original. Se o ator corrige, ele esta melhorando. A dublagem pode ser mais do que isso quando você possui um bom ator.

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