Os EUA contra John Lennon

Ficha Técnica

Direção: David Leaf, John Scheinfeld
Roteiro: David Leaf, John Scheinfeld
Elenco: Depoimentos de: Walter Cronkite, Mario Cuomo, Angela Davis, G. Gordon Liddy, George McGovern, Yoko Ono, Geraldo Rivera
Fotografia: James Mathers
Produção: Brad Abramson, Kevin L. Beggs
Distribuidora: Filmes da Mostra
Estúdio: Lionsgate Films
Duração: 99 minutos
País: EUA
Ano: 2006
COTAÇÃO: ENTRE O BOM E O MUITO BOM


A opinião

O grupo The Beatles foi um sucesso mundial, que arrebatou audiência, crítica e fãs por onde passou. O líder da banda, John Lennon, com a declaração de que eles eram maiores que Jesus, os discos foram destruídos, isso fez com que John enveredasse por outros caminhos. A declaração era uma crítica a Inglaterra, e desencadeou a uma revolução musical a favor da paz e contra a guerra, incluindo questões implícitas não discutidas e a literalidade da palavra.

"De todos os documentários já feitos sobre John Lennon, este é o que ele amaria", disse Yoko Ono, a viúva de Lennon. Antes do Iraque, da administração George Bush, antes de Bruce Springsteen e Pearl Jam, houve John Lennon. O celebrado astro da música que usou sua fortuna e sua fama para protestar contra a Guerra do Vietnã e lutar pela paz mundial. O documentário mostra a transformação do Lennon artista no ativista social e como o governo norte-americano tentou silenciá-lo e expulsá-lo do país. Não é apenas um episódio isolado da história americana, mas sim um fato relevante na atualidade. Focando-se no período 1966/1976, o documentário aborda ainda a luta pelos direitos civis, a nova esquerda e os movimentos políticos, a decepção com o governo Nixon, o caso Watergate. Também são mostrados o ativismo político dos afro-americanos Angela Davis e Bobby Seale, os jornalistas Carl Bernstein e Walter Cronkite, o veterano do Vietnã e ativista Ron Kovic, o historiador e novelista Gore Vidal, entre outros. Mas Lennon é a voz e a presença central do documentário. Ele surge como jamais havia sido visto: uma pessoa de princípios, engraçado, um jovem homem extraordinariamente carismático, que se recusa a ficar calado frente às injustiças. Yoko Ono, ao contrário da imagem feita pela imprensa e pelos fãs, surge como fator agregador e importante nas decisões políticas do músico.

O documentário inicia com efeitos de uma copiadora, retirando fotocópias de documentos sigilosos. Há fotos, imagens e inúmeras musicas dos artistas de Liverpool, que interagem com as cenas apresentadas. “A guerra está chegando ao fim”, expressa uma revolução pelos direitos humanos, contra o medo e o ódio. Os Estados Unidos percebem o poder que o ex-beatle possui, então as suas atividades, e de sua mulher Yoko Ono, são monitoradas. A narrativa comporta-se como um videoclipe ágil, com muitos efeitos e ruídos que interconectam uma cena a outra. A interatividade entre musica e imagem é ponto alto do filme.

Uma das depoentes é Yoko Ono que fala sobre a infância não superada de John. Ele foi abandonado pelos pais. Vivia contra a parede. Era um revolucionário, mesmo nas pequenas ações. Os conflitos apoderaram-se das suas musicas, contra o presidente Nixon e sua guerra do Vietnã, uma guerra impopular, e Camboja. “Todos estão loucos. Não se pode mais não pensar no que está acontecendo, a menos que seja um monge, sem ofender ninguém, por favor”, diz com o sarcasmo irônico inglês, de uma ingênua e arrogante picardia que acredita que poderá mudar o rumo das coisas. “Quando encontrou Yoko, ele encontrou a voz”, diz-se.

A “política” adotada por Jon e Yoko é a comunicação total. Entrevistas em um saco, em uma cama. As soluções eram simples. Não fazer nada para que a guerra acabasse. O nome de John contribuiu para a causa e suas lutas ficaram recorrentes e presentes. O engajamento envolve Martin Luther King, Panteras Negras. Ele aumentava a consciência política e expressava o querer de mitigar para nada a alienação de um povo e seus problemas. “Ter olhos em uma época como essa”, dizia-se. O longa retrata a transformação de ex-Beatle e seu ativismo político. A musica “Revolution” demonstra um “revolucionário pacifico, artista e política”, definição do próprio John. “Ao invés de fazer guerra, vamos ficar tolerantes aqui na cama, como gênios criativos. Façam amor, não guerra”, diziam. “Dar chance a paz. É só declarar a paz”. Utopia? Ingenuidade? Preservar uma democracia que não existia? O mundo imaginário da musica War is Over, em 1969. A campanha para este projeto utópico foi bancada pelo próprio bolso de John. “Imagine”, outra musica é o pano de fundo para fotos jornalísticas de efeito. Ele definiu o próprio país para morar, Nutopia, perfeito, livre e em paz.

Em Nova Iorque descobriu a arte e descobriu a si mesmo. John encaixou-se com a cidade do centro criativo. Buscou quebrar o sectarismo, o nacionalismo e a expor a sua voz, cada vez mais abertamente. Ele cansado de ser amado por milhões, resolveu escolher a defesa de suas idéias. Assim, os Estados Unidos começaram a odiá-lo. Avisos de deportação, processos. Nixon é reeleito. “Não entendo a lei, porque é finita”, diz. Ele luta contra o sistema. Os escândalos, Watergate, de Nixon tornam-se públicos, que o leva a renuncia e o vice ocupa o lugar de destaque americano. “O tempo abre todas as feridas”, diz. Após todos esses processos, John, Yoko e o filho Sean tinham urgência para viver, para ter uma boa vida. Aproveitaram cada momento, pareciam ter a premonição que o ex-beatle seria assassinato.

Vale a pena assistir. Mostra a transformação de um ícone pop inglês em um ativista político que lutou contra o sistema do principal país do nosso mundo. Deu voz as suas idéias, expressou o desejo pela liberdade de ser o que quiser ser, de fumar o que quiser, de compor a musica que se deseja, sem a necessidade de limites e censuras pelo politicamente correto. Recomendo.

O Diretores

David Leaf nasceu em New Rochelle, Nova York, e formou-se na Universidade George Washington. Dirigiu vários documentários para a TV, entre eles Beautiful Dreamer: Brian Wilson & The Story of Smile e A Tribute of Heroes. Durante cinco anos, foi diretor-produtor da Disney’s Salute to the American Teacher. Escreveu e dirigiu episódios para Christopher Reeve: A Celebration of Hope (1998). Foi responsável por programas sobre ícones do humor, como os irmãos Marx, Dean Martin e Jerry Lewis.

John Scheinfeld n asceu em Milwaukee, Estados Unidos. Escritor, diretor e produtor de documentários para a TV. Em 2006, escreveu e dirigiu Who Is Harry Nilsson (And Why Is Everybody Talking About Him)?. Também realizou programas sobre ícones como Frank Sinatra, Peter Sellers, Nat King Cole, Bob Hope, Bee Gees e Bette Midler.