Crítica: Polícia, Adjetivo

Ficha Técnica

Diretor: Corneliu Porumboiu
Roteiro: Corneliu Porumboiu
Fotografia: Marius Panduru
Montagem: Roxana Szel
Música: Dan Dimitriu
Elenco:Dragos Bucur, Vlad Ivanov, Ion Stoica, Irina Saulescu
Produtora:Coach 14
Duração: 115 minutos
País: Romênia
Ano: 2009
COTAÇÃO: ENTRE O BOM E O MUITO BOM



A opinião

O que é ser um policial? Qual o seu dever, responsabilidade? O que deve ser feito para que os resultados sejam almejados? Estes questionamentos são abordados no novo filme do diretor romeno Corneliu Porumboiu. O cinema da Romênia possui a característica de tratar temas polêmicos de contradições sociais e por enfoques politizados. O último grande sucesso romeno foi de Cristian Mungiu, ganhador do prêmio máximo em Cannes com “4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias”, uma história maniqueísta sobre a realização de um aborto.


O cinema romeno retrata dramas individuais, vividos por gente comum em situações incomuns, questionando a moralidade e a política, com a atmosfera de um lugar perdido em seu tempo, doutrinado na fundação de princípios opostos, bem e mal. Os enquadramentos são diretos, com cortes secos, descritivos em seus planos longos, que retratam a espera real de um cotidiano normal. A narrativa singular com elipses, brechas de tempo, sugestões direciona o caos, mas não o impede ou o salva, realiza a observação constante colocando a câmera longe, em um plano geral, que faz com que o espectador não ouça, apenas ative a imaginação do momento, que não veja claramente, como sendo uma distorção da própria visão. O tempo dos acontecimentos é respeitado, como a pausa para um cigarro ser fumado. Quando a câmera acompanha o personagem, ela descreve os lugares, ambienta o rumo a ser seguido e espiona até o que se encontra fora da trama apresentada. Há a necessidade da prévia apresentação das cenas. Os planos longos mostram ações simples, sem cortes: tomar uma sopa, por exemplo.


Cristi é um policial que se recusa a prender um jovem que ofereceu haxixe a dois colegas de escola. O ato de oferecer drogas é punido pela lei, mas Cristi acredita que a lei irá mudar e não quer ficar com peso na consciência por condenar a um jovem que ele considera irresponsável. Para seus superiores, porém, a palavra “consciência” tem um significado diferente. O policial protagonista questionar os métodos da profissão, o dever e a própria opinião, fazendo com que tenha que experimentar mais um significado em sua vida: ética.

É um filme dicionário. Busca definições literais para que os personagens possam defender seus pontos de vistas e crenças. Os diálogos misturam sinceridade com existencialismo realista e definidor de características, que realizam um pré-julgamento, limitando o que é a ser sempre como se apresenta. A flexibilidade não é tolerada, extraindo a nostalgia das regras ultrapassadas. O que é, é assim e pronto.


Cristi não abandona seus pensamentos. Ele deseja mudar a lei antiquada, porque um jovem usou drogas. “Aqui é o único país da Europa que pune quem fuma maconha”, diz. Comporta-se com a modernidade distante no meio o qual vive. Definição é o objetivo. Tenta-se de toda forma conectar palavras dicionarizadas com seres que a escolhem.


Há a simplicidade da experimentação. A maneira de contar a historia retorna às antigas. Até a narrativa é critica e burocrática. Um relatório aparece na tela, não há narração, não há musica, só silêncio. As palavras escritas direcionam o próximo passo, elas descrevem os fatos e ações anteriores. Há a sutileza do contraste. A casa do policial é barulhenta, o trabalho silencioso. O barulho (uma música brega alta e repetitiva “Como seria o dia de hoje sem o amanhã?) irrita. E tem a função de causar desespero, até mesmo no espectador.

O filme fornece sinais, anáforas. “Não são símbolos”, diz sobre figuras de imagens. O youtube esta presente como pano de fundo de conversas e leves discussões entre marido e mulher. Esses papos servem de catarse. De transpassar de um mundo (trabalho - real) a outro (casamento – fantasia). Não há sexo, apelo. Apenas uma câmera, personagens e uma história simples. “Bebidas quentes pioram resfriado”, dizem.


Há o engessamento da figura policia, do setor publico. Cada um usa o tempo sem a importância do trabalho: pausas para o café, almoços demorados e conversas intermináveis. O protagonista necessita possuir jogo de cintura para burlar a burocracia subjetiva e conseguir dados para a realização de sua investigação. “voltar dá azar”, diz-se sobre voltar para buscar algo esquecido.


Pronome adjetivo negativo. A aula começa com definições de palavras. Lei. “Para não haver caos, deve haver lei”. Moral. Policial. Dor na consciência. Consciência. “Uma coisa dentro de mim que impede que eu fique arrependido”. Dialética. Detalhes de erros ortográficos. “Você acredita na sua lei moral e não no real significado da lei”, diz-se. “Você não sabe mais quem é. Ou segue as regras e continua sendo um policial, ou ganha uma consciência limpa e torna-se outra coisa”, finaliza-se. A grande dúvida: seguir as regras não perfeitas ou as próprias criadas?

Vale a pena assistir. Instiga a não só questionar a profissão apresentada, mas coloca em voga todo espírito da ética. O que é moral , como a sociedade se comporta e como agir entre as duas. Recomendo.


O Diretor


Corneliu Porumboiu nasceu em Vaslui, Romênia, e estudou Direção em Bucareste. Dirigiu curtas-metragens como Graffiti (2000), Love... Sorry (2001), Gone with the Wine (2002), Liviu’s Dream (2003) e A Trip to the City (2004). 12:08 A Leste de Bucareste (2006), seu primeiro longa-metragem, venceu o prêmio Caméra d’Or para diretor estreante no Festival de Cannes. Polícia, Adjetivo ganhou o prêmio do júri na mostra Um Certo Olhar do Festival de Cannes 2009 e o prêmio Fipresci, a Federação Internacional dos Críticos. Ele já era querido em Cannes – com o prêmio no Cinéfondation, para competição para filmes de estudantes, com seu curta, Calatorie Las Oras.