Crítica: O Pecado de Hadewijch

Ficha Técnica

Direção: Bruno Dumont
Roteiro: Bruno Dumont
Elenco: Julie Sokolowski, Karl Sarafidis, Yassine Salime, David Dewaele
Fotografia: Yves Cape
Montagem: Guy Lecorne
País: França
Ano: 2009
Duração: 105min


A opinião

“O Pecado de Hadewijch” é um filme que se apresenta de dentro para fora. Inicialmente somos aprisionados pela introspecção sofrega da personagem. Só aos poucos entendemos o que se sofre. Os planos longos e existenciais corroboram para que a atmosfera intimista aconteça. Percebemos uma caixa, que representa uma carga, sendo usada como metafisica para fornecer o concreto da imagem ao abstrato da alma, quando a personagem principal reza, entregue totalmente à culpa do amor incondicional. “Jejum não é martírio. É falta de amor próprio”, diz-se. Questiona-se a religião, argumentando-se com dois lados, quando expõe as crenças catolica e islamica, com paralelismo, ora comparando, ora entrando em coflito com a propria ideia apresentada. O exemplo disso é quando o terço está junto com migalhas de pão que serão dadas aos pombos.

“Regras que nos protegem e nos guiam”, diz-se, resumindo o caminho a ser percorrido. Há o radicalismo católico e o muçulmano. Os dois buscam a mesma coisa. “Você é bonito, normal”, diz-se, mas se complementa com “Estou apaixonada por Cristo”. A modernidade convive com o clássico. A casa da personagem assemelha-se a uma igreja: opulenta e opressora, que angustia o querer. O conflito entre o simples do discurso de Cristo com o mundo real coloca em xeque o real significado da religião. “Ausência e o misterio”, diz-se podendo ser caracteristicas de qualquer uma das religiões. “Deus pode estar exposto e u invisivel. Captamos por meio da adoração”, ensina-se, prendendo-se a qualquer elemento inexplicavel para embasar o porquê de se acreditar. A fotografia utiliza a luz para expõr e desaparecer, como forma de interação com o que está sendo dito. Entender o pecado é esmiuçar as entrelinhas. É perceber os simbolismos sutis. Nascer, viver, escolher. Tudo pode ser um ato pecador, porém há a possibilidade de um seguidor errante fornecer a real salvação da morte e de Deus. Concluindo, um filme denso, atemporal em suas divisões de narrativa, questionador. Vale muito a pena ser visto.

A Sinopse

Céline, estudante de teologia, adota o nome de Hadewijch, místico do século 13 do Brabant, no norte da França. Chocada com a fé cega e extática da moça, a madre superior a envia para fora do convento, para que encontre sua vocação no mundo. Ela então volta a ser uma menina comum, filha de um ministro francês. Um dia conhece Yassine, Africano do subúrbio, quem a apresenta ao seu irmão Nassir, muçulmano praticante e professor de religião. O amor de Céline por Deus, assim como sua raiva e seu desejo de entregar-se ao sacrifício, a lançam num caminho perigoso. Prêmio FIPRESCI no Festival de Toronto.

O Diretor

Nasceu na França em 1958. Após trabalhar como professor de Filosofia durante anos, decide dedicar-se ao cinema. Seu primeiro longa-metragem, A Vida de Jesus (1997), foi selecionado para a Quinzena dos Realizadores e ganhou uma menção especial do Caméra d’Or. Seu filme seguinte, A Humanidade (1999), foi vencedor do Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes, assim como dos prêmios de melhor ator e melhor atriz. Em 2006, volta a ganhar o Grande Prêmio do Júri em Cannes com Flandres.

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