Lanternas Vermelhas

Ficha Técnica

Direção: Yimou Zhang
Roteiro: Ni Zhen
Elenco: Gong Li, Ma Jingwu, He Caifei, Cao Cuifeng, Jin Shuyuan, Kong Lin, Ding Weimin, Cui Zhihgang.
Fotografia: Zhao Fei
Trilha Sonora: Zhao Jiping
Produção: Chiu Fu-Sheng
Duração: 125 min
País: China/Hong-Kong/Taiwan
Ano: 1991
COTAÇÃO: MAIS DO QUE EXCELENTE




A opinião

O diretor chinês Zhāng Yìmóu busca conservar a tradição chinesa, retratando costumes e regras sociais antigas. Os temas são comuns, quase banais. O que os posiciona em um patamar cinematográfico elevado, é a forma que Zhang trabalha os elementos. A cenografia é o diamante bruto de suas obras. Ele imprime grandiosidade, luxo, cores vibrantes e contrastada, com planos simétricos e imponentes. Em “Lanternas Vermelhas”, aborda a vida de uma garota que está prestes a se casar com um homem que já possui três esposas. Na China dos anos 20, uma jovem (Gong Li), recém-saída da universidade, vai ser concubina de senhor feudal que mantém em seu palácio outras três mulheres na mesma condição. As quatro armam todo tipo de intrigas na disputa pelos privilégios e confortos que a preferência dele proporciona. O filme foi indicado para o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Ser mais uma companheiro é um costume antigo e aceitável, não questionado. “Você se acostumará com isso”, diz a criada quando faz massagem no pé da recente casada. O roteiro transpassa simbolismos como crenças.

Acreditar que acender lanternas vermelhas é uma forma de boas vindas corrobora o misticismo de uma religião massificada e tão entranhada na vida dos indivíduos que a seguem, sem a revolta e ou curiosidade do rebatimento (até como forma de se conhecer realmente). O principal em sua obra é revelar sentimentos perdidos na alma, escondidos no próprio ser. Há a exposição do que se é realmente, abolindo máscaras. Inveja, submissão, pequenas vinganças, crueldade, resignação, essas são alguns dos elementos que vêm à tona quando se decide mitigar toda e qualquer forma de salvação humana, que se encontra no interior de cada um. A sordidez é exposta sem limites. Externalizando os jogos sociais e a manipulação para que se consiga o que quer. A fotografia alaranjada com sombras coloridas cria o realismo lírico e seco. O espectador mergulha na história e descobre a cada momento passado que não existe mesmo a salvação. “Eu gosto de claridade e formalidade”, diz-se. A figura da mulher necessita, para a sobrevivência, aceitar o fato de que não possui direitos, então sofre-se quieta e calada. A boa conduta entre as esposas reverbera a hipocrisia social. “Precisa servir bem o senhor (marido)”, diz-se.

Os personagens interpretam mudanças de humor e percepção pelas expressões faciais sutis e empenhadas. Isso gera um convencimento realista e natural da trama que se apresenta. Há estéticas em termo de fotografia. Pálidas, gélidas, tendo a cor vermelha (acetinada), mecanismo do abstrato que se deseja mostrar como concreto. Provocações, picardias, sarcasmos, ciúmes, quereres exacerbados – e mimados, medos da perda do que se conseguiu, posse e competições, jogando Mahjong, um jogo de tabuleiro chinês muito intrigante. Há o existencialismo verdadeiro. Uma das esposas é cantora de ópera, decorando, com máscaras teatrais, a casa como um palco, alude-se às encanações para conseguir positivamente os resultados. A trama passeia pelas quatro estações. Apresenta-se ao espectador a gradual trajetória da sordidez e suas consequências. Quem joga melhor, consegue benefícios. “Se representa bem, engana os demais”, resume-se. “Todos conspiram. Que sentido há nisso?”, rebela-se. Os mais sensíveis somatizam culpa, sem continuar vivenciando a frieza. Uma das opções é a loucura ou fazendo viver os fantasmas. Concluindo, um filme intenso, aprofundado, gradual, que prende a atenção total do espectador pela simplicidade e competência. Zhāng Yìmóu é um gênio e sabe escolher muito bem os seus atores. Recomendo.

Balé Nacional da China: Lanternas Vermelhas

Zhāng Yìmóu dirigiu o espetáculo “Lanternas vermelhas” em algumas cidades do Brasil. Eu assisti no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Ele conserva a imponência, grandiosidade e magnitude da história. A diferença é que no Teatro, a trama modifica-se ao abordar a vida de um senhor com três esposas. No filme são quatro. As cenas são magistrais. Há um imenso cetim vermelho em cena. Há lanternas vermelhas. Há neve. Há a suposição da crueldade das mortes. É intenso, incrível e arrebatador. Saí com a sensação de ter vivido uma experiência única. Vale muito a pena ser visto. Recomendo.

O espetáculo tem coreografia de Wang Xkinpeng, música de Chen Qigan e destaca-se pelo inovador conceito de iluminação e por suas soluções cênicas, que parecem levar o espectador para dentro de uma cena de cinema, como também pelos maravilhosos figurinos e pela perfeição técnica dos solistas e corpo de baile.

A ação do espetáculo se desenrola nos anos 1930. Uma jovem é forçada a tornar-se a terceira esposa de um velho senhor feudal. Suas duas enciumadas esposas a recebem com relutância. O quarteto passa o tempo jogando “mahjong” e assistindo em casa aos espetáculos da Ópera de Pequim. O senhor e suas três esposas levam o jogo ao extremo de interagirem com os atores. Em meio às performances, a terceira esposa acaba se deparando com seu amante, um especialista em artes marciais do elenco da Ópera.

Mas o segredo do casal é descoberto pela segunda esposa, que os denuncia ao marido. Para sua surpresa, ao invés de cair em suas graças, ela só consegue enfurecer seu amo e acaba por enlouquecer. No final, a estrutura da tensa família feudal, colocada em xeque, acaba por se esfacelar em um banho de sangue.

O Diretor

Nasceu na China em 1950. Estudou na Academia de Cinema de Beijing, especializando-se em direção de fotografia. Em 1987, realizou seu primeiro longa-metragem, Sorgo Vermelho, pelo qual obteve o Urso de Ouro no Festival de Berlim. Entre seus filmes, destacam-se Tempo de Viver (1994), Nenhum a Menos (1999), vencedor do Leão de Ouro em Veneza, Herói (2002), indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro, e O Clã das Adagas Voadoras (2004).

Filmografia

2009 - A Woman, a Gun and a Noodle Shop (San Qiang Pai An Jing Qi)
2007 - Cada Um Com Seu Cinema (Chacun Son Cinéma ou Ce Petit Coup au Coeur Quand la Lumière S'Éteint et que le Film Commence)
2006 - A Maldição da Flor Dourada (Man Cheng Jin Dai Huang Jin Jia)
2005 - Um longo caminho (Qian li zou dan qi)
2004 - O Clã das Adagas Voadoras (Shi Mian Mai Fu)
2002 - Herói (Ying Xiong)
2001 - Happy Times (Xingfu Shiguang)
1999 - O Caminho Para Casa (Wo de fu qin mu qin)
1999 - Nenhum a menos (Yi ge dou bu neng shao)
1997 - You hua hao hao shuo
1995 - Lumière e companhia (Lumière et compagnie)
1995 - Operação Xanghai (Yao a yao yao dao waipo qiao)
1994 - Tempo de viver (Huozhe)
1992 - A história de Qiu Ju (Qiu Ju da guan si)
1991 - Lanternas vermelhas (Da hong deng long gao gao gua)
1990 - Amor e sedução (Ju Dou)
1989 - Codinome Cougar (Daihao meizhoubao)
1987 - O sorgo vermelho (Hong gao liang)

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